domingo, 20 de novembro de 2011

Reproduzindo papel

O papel impresso e assinado é a base de funcionamento da administração pública. Uma tentação óbvia na concepção de sítios da administração pública é pegar naquilo que se consideram os papéis importantes, transformá-los em PDF e especá-los na web com maior ou menor dose de arrumação, maior ou menor sofisticação técnica. A isso pode acrescentar-se o dar ênfase àquilo que é a moda corrente no universo político administrativo (exemplo típico: SIADAP proeminante) embora seja totalmente irrelevante para o cidadão comum. Infelizmente isso tende a ser apresentado como um exemplo a emular no meio de afirmações politicamente correctas.

Vidé: http://www.sec-geral.mctes.pt/.

sábado, 29 de outubro de 2011

MEC recomenda software livre e não paga licenças MS

Parece que o Ministério da Educação comunicou aos Directores das escolas secundárias que não paga mais licenças Microsoft para cerca de 50000 computadores, que no último ano custaram ao Estado mais de 1M €, recomendando ao mesmo tempo a reconversão dessas máquinas para software livre. Isto é segundo o Público de 29 de Outubro de 2011. Quais licenças, que tipo de computadores, exactamente qual software e se poderá continuar-se a comprar alegremente computadores com software MS instalado e implicitamente pagar as respectivas licenças é algo que a notícia em si não esclarece por aí além. Que não são só servidores parece óbvio de uma referência a 50000 computadores. As habituais confusões entre software de código livre, grátis e Linux estão presentes no texto da notícia.

O que me deixa um pouco perturbado é algo muito simples: a adopção de software de código livre em geral obriga a que quem o administra tenha uma preparação alguns furos acima do que acontece com os produtos MS. Não é este o mesmo governo que acaba de sinalizar a todos os profissionais de informática competentes que trabalham para o Estado que o melhor é mudarem-se para o privado e depressa?

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Como fazer uma página web

Embora existam standards técnicos para páginas web para pessoas com problemas de acessibilidade fala-se muito pouco de como se pode fazer um mau sítio web para o público em geral.

Esta nota destina-se a guardar as sugestões indispensáveis para fazer um péssimo sítio web de uma assentada.

  1. Estude exclusivamente qual o aspecto da página de entrada. O resto não interessa.
  2. Dá muito trabalho editar HTML. Há o Save As HTML do MS Word ou melhor ainda use digitalizações dos seus ofícios.
  3. Não ligue para a gramática ou erros de ortografia.
  4. Use animações ou qualquer coisa a piscar.
  5. Contrate um rapaz jeitoso que trabalhou para alguém que você conhece e fez uma coisa engraçada.
  6. Não planeie absolutamente nada, não analise a estrutura lógica do seu negócio e não se preocupe com os utilizadores do sítio.
  7. Ponha muitos Clique aqui.
  8. Aproveite bem o espaço da página. Nada de espaço em branco, texto bem amontoado,...
  9. Quando uma imagem for pequenina amplie-a!

O stalinismo luso na web governamental

As mudanças governamentais em Portugal trazem, tão certo como a monção, o desaparecimento súbito de sítios web de órgãos governamentais que subitamente deixaram de existir. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior dos governos Sócrates, em que Mariano Gago era ministro, tinha um sítio em www.mctes.pt. Não era propriamente um primor tecnicamente mas com certeza que era inestimável como registo histórico público e facilmente acessível de seis anos de notável desenvolvimento deste sector. Agora foi reduzido a um bastante lacónico aviso de site em manutenção. Compreende-se que não se queira dar a ideia de que um organismo que já não existe, ainda existe, mas não se poderia ter um compromisso minimamente inteligente, como se deveria esperar da parte da administração que superintende à ciência e a tecnologia?

Seria transcendente alterar a página de entrada para algo que dissesse que se tinha acedido ao antigo sítio de um Ministério, mostrar uma ligação para a entidade sucessora e outra para aceder a uma versão arquivada do sítio? Que a web, como qualquer outro mídia, tem valor histórico é algo que a corrente geração de políticos e intelectuais ainda não entende, votando-lhe o mesmo desprezo a que já foram votados o cinema, rádio, televisão ou banda desenhada. Mostrem-lhes um monte de ofícios em papel e ficam babados com o seu valor histórico.

Outro sintoma da mesma maleita é a legislação sobre o acordo ortográfico que impõe a reescrita em português “acordado” de tudo o que é página web oficial irrespectivamente de quando foi escrita. Com sorte, tratando-se de um pedaço de legislação socrática, será rapidamente esquecida...

Felizmente que ainda existe o Internet Archive!