Agora que saímos das eleições autárquicas não há nada mais apropriado para um blog que se propõe analisar as relações entre a administração pública e a web do que começar com o novíssimo portal da CML, naminharua de seu nome, que emula o britânico Fix my Street (quem o diz é o Público, veremos se é verdade).
O facto teve honras de notícia no Público que lhe chama em título um Portal de Queixas (pois, mais um título preciso; duvido que sirva para nos queixarmos sobre a taxa de esgoto...) e relata dificuldades de funcionamento. As dificuldades de funcionamento parecem a frustração dos masoquistas que ainda usam Internet Explorer 6 (~13% dos ~55% de utilizadores que usam Internet Explorer de acordo com as estatísticas de outro portal completamente diferente), lentidão, aquele sempre preciso diagnóstico mas que no meu caso corresponde a um Aguarde... de cerca de 1 minuto ao meio dia de Domingo, o que possivelmente neste caso quer dizer que, tendo o portal aberto imediatamente antes das autárquicas, estava e está tudo um pouco preso por arames e, finalmente algo bem concreto e relevante, a necessidade de instalar Microsoft Silverlight 3.0, algo um "bocadinho" difícil se se usa Linux.
A comparação com o Fix my Street é um pouco descabida. Aquele portal britânico é operado por MySociety.org e não por uma câmara municipal ou por outro organismo governamental. O que se vê ao entrar no naminharua é um mapa interactivo de Lisboa supostamente para assinalar as nossas queixas. Outras queixas já publicadas por outros primam pela ausência enquanto que no FixMyStreet é a primeira coisa que se vê.
Depois de duas actualizações do moonlight consegui chegar (depois da habitual espera de cerca de 1 minuto) a um formulário de submissão da ocorrência em que a primeira coisa que é pedida é o NIF (!) e ou outros campos pedidos parecem ser um sonho de uma agência de telemarketing. Será que a CML pretende cobrar IVA a quem denunciar um buraco num passeio? Será que esta base de dados passou pela Comissão Nacional de Protecção de Dados? Note-se que os dados parecem ser transmitidos por http sem qualquer encriptação a não ser que tal seja feito internamente ao silverlight. Ainda não consigo submeter o que quer que seja pois não consigo fazer escolhas em menus.
Curiosamente o portal parece ter uma interface toda ela assumindo que não estamos em Portugal: distâncias em jardas e milhas, impossibilidade de introduzir caracteres com acentos.
O diagnóstico da qualidade técnica do portal é o habitual em portais desenvolvidos com tecnologias Microsoft. Há erros de HTML e a acessibilidade para pessoas com deficiências falha os critérios da Resolução de Conselho de Ministros 155/2007.
Enfim: uma ideia razoável, desenvolvida com pouco cuidado e tecnologias não universais e minimamente estáveis.
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